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PERGUNTAS FREQUENTES SOBRE BILINGUISMO E LÍNGUA DE HERANÇA

01 /
O que é o português como língua de herança?
04 /
Como assim transmitir e manter o português como língua de herança? Eu sou casada com italiano, é difícil para mim.

Existem várias conotações para o termo língua de herança: língua materna, língua dos imigrantes, língua de origem, língua minoritária, língua comunitária ou língua de casa (VALDÉS, 1995).
Na Itália, utiliza-se o termo lingua d’origine [língua de origem] como designado nos documentos do Ministério da Educação Italiano e nos decretos referentes às diretrizes da política linguística do Conselho da Europa quando traduzidos para a língua italiana. (OLIVEIRA DE SOUZA, 2018)

“O português como língua de herança caracteriza-se pelos contextos em que o português e sua cultura são ensinados a filhos de luso-falantes imigrados, em diferentes partes do mundo, e representantes de diferentes línguas-culturas em português”. (Mendes, 2012,p.20)

Retirados dos artigos:

MENDES, E. Vidas em português: perspectivas culturais e identitárias em contexto de português língua de herança (PLH). Revista do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, v. 1, n. 2, 2012. Cabo Verde: Editora IILP. 2012, p. 20-31.

OLIVEIRA DE SOUZA, A.L. "Aquisição do português brasileiro como língua de herança em contato com o italiano: considerações acerca das interferências linguísticas". Revista Domínios de Lingu@gem | Uberlândia | vol. 12, n. 2 | abr. – jun. 2018, p.1294-1329

 "A terminologia “transmissão” é bastante utilizada nas discussões de PLH. Não se trata, porém, de pensar a língua como algo pronto ou como um patrimônio que pode ser entregue ou transmitido juridicamente aos “herdeiros” para ser simplesmente usado, como se tal atitude bastasse.

A transmissão de uma língua de herança (LH) pode requerer muito esforço, tanto de quem ensina como de quem aprende. Transmissão, no contexto de LH, se refere a essa maneira de ensinar a língua que ocorre a partir de situações cotidianas, de interações reais, normalmente entre os membros do núcleo familiar – mas podendo se expandir à comunidade de fala – desde a mais tenra idade do aprendiz, os chamados “contextos naturais”. 

O estudos de Moroni (2018) também confirmaram que a atitude linguística do progenitor não brasileiro, quando positiva, ao falar e acolher a língua portuguesa, pode ser importante para a valorização dessa língua, prestigiando-a e respeitando-a. Graças a essa atitude, as crianças podem ter como referente positivo um outro modelo de falante, o “não nativo”.

Do artigo: MORONI, A., "O papel do progenitor não brasileiro na transmissão do PLH: suas práticas linguísticas e o impacto na proficiência dos filhos". Revista Domínios de Lingu@gem | Uberlândia | vol. 12, n. 2 | abr. – jun. 2018  p. 1233-1266.

02 /
Se eu falo português em casa, meu filho irá falar?
05 /
Como eu faço para que meu filho aprenda a ler e escrever em português?

Se sua criança é exposta desde seu nascimento ao Português e você fala de vez em quando, misturando as duas línguas em família, isso não é garantia de que a criança usará o português de modo proficiente. Isso depende da quantidade de estímulos recebido na LH que varia de caso a caso por uma série de fatores. Existe uma forte dimensão afetiva nos períodos iniciais da aquisição e aprendizagem da língua-cultura de herança. A criança precisa desde pequena criar esse laço afetivo com a língua portuguesa e cultura brasileira. Mas esse fator é uma responsablidade dos país em seu núcleo familiar, estimulando o filho a não somente receber essa língua na sua oralidade, mas produzi-la, cantando e brincando, e posteriormente lendo e escrevendo.

 Se a prática de leitura e escrita é feita na língua majoritária e dominante, na escola ou em casa, porque também não implementar essa modalidade na língua de herança, o português?

Antes mesmo que o seu fiho ou sua filha comece a aprendizagem da leitura, você pode arriscar a ler juntamente com ele ou ela um livrinho. Aos poucos ir introduzindo a leitura e escrita também em português.

Na Casa do Brasil em Florença, a contribuição das famílias na ampliação do acervo de livros infanto-juvenis ajuda muito, pois assim, torna-se viável a imersão das crianças e adolescentes no mundo da escrita com práticas significativas de transmissão da LH.

Contudo, essa imersão e ampliação do mundo da escrita devem ser pensadas dentro e fora da esfera escolar (dos encontros da Casa do Brasil).

03 /
Dizem que se eu continuar falando o português, quando entrar na escola o meu filho não vai  seguir bem as matérias. É verdade?
06 /
Qual a importância de ensinar a ler e a escrever em português para o meu filho?

Não é verdade. Estudos comprovam que é impossível negar os benefícios do bilinguismo, quer em termos de acesso aos bens sociais, quer em termos de comunicação e consolidação, e do pontos de vista cognitivo. São múltiplas as vantagens que advêm do bilinguismo a nível social, cultural, acadêmico e em muitos domínios cognitivos e linguísticos.

"A atenção acrescida dada às línguas e à linguagem, motivada pela prática bilingue de controlo e, em muitos casos, de reflexão sobre elas, parece estar na origem de outras vantagens de carácter linguístico que assentam numa desenvolvida consciência linguística (incluindo, nomeadamente, a percepção da distância entre a realidade e as suas representações) e na precoce capacidade metalinguística dos falantes bilingues".

Do artigo de PEREIRA, D., "Aprender a ser bilígue". In Múltiplos olhares sobre o bilinguismo. transversalidades II / org. Cristina Flores ; Hespérides. Linguística; V. 9, 1ª ed., 2011. - 242. 

Atualmente, novos mercados nas diversas línguas estão sendo mapeados. O posicionamento da língua portuguesa no mundo e sua entrada no fluxo da produção econômica levou a um novo posicionamento em mercados múltiplos. 

Pense nos benefícios em todos os sentidos que a sua criança pode vir a ter adquirindo e aprendendo o português.

Estudos já realizados comprovam o quanto são importantes as práticas familiares orientadas à leitura e a escrita da LH. Nota-se que a valorização e a competência nessa língua são mais elevadas se os contextos de leitura e escrita são realizados, mas do que quando as práticas são orais voltadas para o cotidiano. (Harmes e Blanc, 2000)

Se a dupla herança cultural da criança não é valorizada, ela pode associar sua identidade a uma única cultura, somente a cultura do país que vive, e aquela ligada à língua da família pode ser associada a uma cultura menor. 

Por outro lado, se existe um ambiente que estimula a valorização de ambas as culturas, a criança terá a oportunidade de integrar elementos das duas culturas numa identidade harmoniosa, tentando encontrar soluções para não negar uma das duas culturas

Do artigo: OLIVEIRA DE SOUZA, A.L. O Português como Língua de Herança em Florença: Línguas e identidades em movimento In: Português como Língua de Herança: uma disciplina que se estabelece.

1° ed. Campinas: Pontes Editores, 2020, p. 89-106.

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